domingo, 21 de junho de 2009

Rádio Criativo em edição extra - José Edmar Predebon (o Predeba)

O rádio como instrumento de geopolítica »

27/09/08

Atenção, ouvintes-leitores que por acaso ou por descuido andaram lendo algumas das vinte edições do “Rádio Criativo”, atenção, estou aqui, só me afastei para uma viagem profissional, vocês não se livraram de mim. Como toda viagem tem de incluir a volta (com exceção daquela última, xô!) estou planejando o quando e o como do retorno, e hoje dei um pulinho aqui para ver se o meu lugar continua reservado.

Mas não é só; para falar dez por cento mais sério, na verdade o que me fez mesmo vir a vocês, nesta espécie de edição extra, foi um fato feito sob medida para o Caros Ouvintes, a notícia que, no primeiro mundo, a poesia e a filosofia estão em alta. Opa? E o que o rádio tem a ver com isso? Vejamos.

Transporto-me para trinta anos atrás, quando eu tentava ajudar um amigo, que tinha um programa de crônicas e poesias em uma emissora do interior. Ele andara usando poesias do meu livro Deslimites, e me pedira para ver na Capital se alguma rede de rádio se interessaria em veicular o seu programa. Aí me vejo descrevendo o programa dele a um empresário da mídia, dirigente de grande emissora.

- Mas, Predeba, exatamente para que ouvinte esse programa é feito?

- Para uma pessoa sensível, que gostaria de ter um programa de rádio para ouvir à noite, com poesia, crônicas e boa música.

- Pessoa de idade, não é?

- Também, também.

- Nada feito, amigo, eu conheci essa pessoa, mas ela já faleceu.

A ducha fria que recebi foi hilária. Mas era produto de uma visão realista, na época, de quem avaliava com cuidado o mercado para só investir com o máximo sucesso.

Contudo, veio o marketing da segmentação, que abre espaços também para as minorias, e, além disso, atualmente algo está mudando na dinâmica social. Concordo com os que estão percebendo uma espécie de refluxo da sociedade consumista. Lembro que as máquinas automáticas de vender livros no metrô de São Paulo começaram a exibir Maquiavel e Nietsche, enquanto na tevê o Fantástico repetidamente pauta a filosofia. Lembro também que acabamos de ver o ensino da filosofia voltar aos currículos do segundo grau.

Amigos, o rádio pode aproveitar essa onda, e ao abrir espaços novos à filosofia, estará fazendo eco a uma tendência que tem tudo a ver com a “descoisificação” do consumidor. A tendência existe, sim, e as pessoas que ainda não acham que “está tudo dominado”, devem se mexer agora.

Filosofia e poesia no rádio amigos! Quem concorda levante o microfone! A quem precisar de conteúdo, darei de bandeja o nome daquele produtor de poesia meu amigo, e também de outro que dirige um ativo grupo de discussão de filosofia, além de lecionar a matéria como professor da rede pública.

Ah, tudo isso é bobagem? Ou acham que sou otimista demais? Perdoem-me, mas não pretendo mudar. Penso que o rádio também tem função social, e não pode desistir disso. Amigos, até a próxima oportunidade, obrigado pela atenção dispensada, e viva o rádio!

PS – Filosofia, sim, pois se não aprender a pensar, a pessoa poderá ser no máximo operadora de sistema. Poesia, sim, pois a partir dela mostramos que o homem tem algo divino e o computador é bem limitado.

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por
José Predebon
em Caros Ouvintes
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